sexta-feira, 27 de maio de 2011

7 dias, 7 empenos

Na edição de Janeiro de 2010, a Bike Magazine publicou uma reportagem de 3 páginas escrita pelo Luís, onde ele descreve os 7 dias e 7 empenos, tal como foi baptizada a travessia pelo Zé Pedro. 






Resumo das etapas:Etapa# : Partida - Chegada (Distância; Ascenção Acumulada) 
Etapa 1 : St Jean Pied de Port - Huarte (70km; 2100m)
Etapa 2 : Huarte - Nazarrete (124km; 1950m)
Etapa 3 : Nazarrete - Hornillos del Camino (140km; 800m)
Etapa 4 : Hornillos del Camino - Villamoros de Mansilla (138km; 1115m)
Etapa 5 : Villamoros de Mansilla - Ponferrada (119km; 1576m)
Etapa 6 : Ponferrada - Sarria (94km;)
Etapa 7 : Sarria - Santiago de Compostela (120km;)

Dia 7: Sarria - Santiago de Compostela

O último dia do nosso caminho acordou nublado, a saída de Sarria foi feita por caminhos ladeados por muros de pedra, com uma neblina que atribuía um tom místico ao percurso. Os trilhos na Galiza são totalmente diferentes da meseta ibérica, têm uma tonalidade muito mais verde, sombras oferecidas por árvores de grande porte e serpenteiam sem lógica da mão humana.

Eu continuava fisicamente em baixo, porque embora sentisse força para pedalar, o corpo e os reflexos eram lentos como se estivesse meio adormecido em cima da bicicleta.

O calor teimava em não dar tréguas, com temperaturas sempre perto dos 40 graus, qualquer paragem servia para voltar a encher litros de água, beber umas Fantas e comer os saborosos Maxibons.








Ao final da tarde concluímos os últimos 120 km que nos separavam do nosso objectivo, por volta das 17 horas entrámos em Santiago de Compostela e avistámos as torres da imponente catedral. Foi com enorme alegria que entrámos na praça em frente ao pórtico da catedral e fomos receber a nossa Compostela.





Nessa noite ficámos a dormir no enorme seminário que acolhe os peregrinos oriundos de todo o mundo.




Dist: 120 Km

Dia 6: Ponferrada – Sarria

Não dormi nada a noite passada, estive constantemente a acordar cada vez que mudava de posição na cama e para piorar as coisas, não conseguia tirar da cabeça a ideia que dificilmente iria estar em condições para continuar o caminho. A queda de ontem tinha ferido um dos ligamentos do ombro e aquela dor que mais parecia o espetar de uma agulha era minha conhecida, pois uns anos antes, tinha tido uma ruptura total de um ligamento do joelho. O cenário era bastante negro, porque este tipo de lesões demoram alguns dias/semanas a sarar.

Hoje de manhã quando acordámos, como que por milagre, as dores eram bem menores, embora ainda não conseguisse levantar o braço mais alto que a altura do peito. No entanto, eu como qualquer amante desta modalidade, estava entusiasmado por saber que tínhamos pela frente uma etapa de montanha e nada deste mundo iria desviar-me da subida ao Cebreiro.

Depois do pequeno almoço fomos a uma farmácia comprar anti-inflamatórios e analgésicos que tiveram o efeito desejado, as dores passaram a "só chatear" e o braço ganhou alguma mobilidade.

A subida começa suave e o ritmo foi bastante vivo sempre no despique com o Jorge. O pior estava para vir na hora do pico do calor, pois os últimos km's têm uma inclinação considerável, deixa de haver zonas de sombra, o peso dos alforges começa a fazer sentir-se e a temperatura corporal sobe em flecha. No último troço, já com o cume em linha de vista, tive de deixar a roda do Jorge e pouco tempo depois resolvo parar numa das raras sobras para comer uma pêra e esperar pelo resto do grupo. Acabo por pedalar o último quilómetro na roda do Zé Pedro e pouco tempo depois somos presenteados com um café completamente desterrado no cimo da serra, que vive da afluência de peregrinos.

A satisfação de termos terminado a subida era tanta, que literalmente comemos e bebemos de tudo um pouco em doses industriais. Quando voltámos ao caminho afinal a subida ainda não tinha terminado e a última parte foi feita de barriga cheia a ritmo de caracol.

A parte da tarde foi feita sempre a descer em direcção à Galiza, por trilhos e caminhos de terra intermináveis, de uma beleza extrema que só a paisagem de montanha pode oferecer. Apesar da espectacularidade do caminho, os medicamentos estavam a ter efeitos colaterais, eu sentia-me como que a adormecer, o corpo começava a reagir de uma forma lenta e as dores no ombro não me deixavam desfrutar. 

Fui ao sabor da corrente durante horas a fio, até Sarria onde acabámos por pernoitar.

Dist: 94 Km