sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dia 6: Ponferrada – Sarria

Não dormi nada a noite passada, estive constantemente a acordar cada vez que mudava de posição na cama e para piorar as coisas, não conseguia tirar da cabeça a ideia que dificilmente iria estar em condições para continuar o caminho. A queda de ontem tinha ferido um dos ligamentos do ombro e aquela dor que mais parecia o espetar de uma agulha era minha conhecida, pois uns anos antes, tinha tido uma ruptura total de um ligamento do joelho. O cenário era bastante negro, porque este tipo de lesões demoram alguns dias/semanas a sarar.

Hoje de manhã quando acordámos, como que por milagre, as dores eram bem menores, embora ainda não conseguisse levantar o braço mais alto que a altura do peito. No entanto, eu como qualquer amante desta modalidade, estava entusiasmado por saber que tínhamos pela frente uma etapa de montanha e nada deste mundo iria desviar-me da subida ao Cebreiro.

Depois do pequeno almoço fomos a uma farmácia comprar anti-inflamatórios e analgésicos que tiveram o efeito desejado, as dores passaram a "só chatear" e o braço ganhou alguma mobilidade.

A subida começa suave e o ritmo foi bastante vivo sempre no despique com o Jorge. O pior estava para vir na hora do pico do calor, pois os últimos km's têm uma inclinação considerável, deixa de haver zonas de sombra, o peso dos alforges começa a fazer sentir-se e a temperatura corporal sobe em flecha. No último troço, já com o cume em linha de vista, tive de deixar a roda do Jorge e pouco tempo depois resolvo parar numa das raras sobras para comer uma pêra e esperar pelo resto do grupo. Acabo por pedalar o último quilómetro na roda do Zé Pedro e pouco tempo depois somos presenteados com um café completamente desterrado no cimo da serra, que vive da afluência de peregrinos.

A satisfação de termos terminado a subida era tanta, que literalmente comemos e bebemos de tudo um pouco em doses industriais. Quando voltámos ao caminho afinal a subida ainda não tinha terminado e a última parte foi feita de barriga cheia a ritmo de caracol.

A parte da tarde foi feita sempre a descer em direcção à Galiza, por trilhos e caminhos de terra intermináveis, de uma beleza extrema que só a paisagem de montanha pode oferecer. Apesar da espectacularidade do caminho, os medicamentos estavam a ter efeitos colaterais, eu sentia-me como que a adormecer, o corpo começava a reagir de uma forma lenta e as dores no ombro não me deixavam desfrutar. 

Fui ao sabor da corrente durante horas a fio, até Sarria onde acabámos por pernoitar.

Dist: 94 Km





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